jueves, 21 de agosto de 2008

Tapadas por Itaipu

Há 25 Anos, Tinha Início a Morte das Sete Quedas

Por Guilherme Dreyer Wojciechowski - SopaBrasiguaia.com

Sorte de quem as conheceu. Em 13 de outubro de 1982, há 25 anos, o fechamento das comportas do Canal de Desvio de Itaipu começava a sepultar, com as águas barrentas do lago artificial, um dos maiores espetáculos da face da Terra: as Sete Quedas do Rio Paraná ou Saltos del Guairá.

Recordistas mundiais em volume d’água, as Sete Quedas eram o principal atrativo turístico de Guaíra, cidade que, à época, chegou a rivalizar em importância com Foz do Iguaçu. Atualmente, a população da antiga cidade real espanhola é inferior a 30 mil habitantes.

Curiosamente, à exceção de Guaíra, a data não foi recordada na imprensa do Brasil ou do Paraguai. Silêncio cúmplice para aquele que, nas palavras do jornalista Juvêncio Mazzarolo (atualmente, funcionário de Itaipu), foi um verdadeiro “holocausto ecológico”? Talvez.

Como forma de manter viva a chama da memória, o SopaBrasiguaia.com convida os leitores a acompanhar as belas imagens das Sete Quedas, com a leitura do poema “Adeus Sete Quedas”, de Carlos Drummond de Andrade. Que semelhante tragédia não se repita. Jamais.

Sete quedas por mim passaram,
e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
a memória dos índios, pulverizada,
já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,
aos apagados fogos
de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se
os sete fantasmas das águas assassinadas
por mão do homem, dono do planeta.

Aqui outrora retumbaram vozes
da natureza imaginosa, fértil
em teatrais encenações de sonhos
aos homens ofertadas sem contrato.
Uma beleza-em-si, fantástico desenho
corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno
mostrava-se, despia-se, doava-se
em livre coito à humana vista extasiada.
Toda a arquitetura, toda a engenharia
de remotos egípcios e assírios
em vão ousaria criar tal monumento.

E desfaz-se
por ingrata intervenção de tecnocratas.
Aqui sete visões, sete esculturas
de líquido perfil
dissolvem-se entre cálculos computadorizados
de um país que vai deixando de ser humano
para tornar-se empresa gélida, mais nada.

Faz-se do movimento uma represa,
da agitação faz-se um silêncio
empresarial, de hidrelétrico projeto.
Vamos oferecer todo o conforto
que luz e força tarifadas geram
à custa de outro bem que não tem preço
nem resgate, empobrecendo a vida
na feroz ilusão de enriquecê-la.
Sete boiadas de água, sete touros brancos,
de bilhões de touros brancos integrados,
afundam-se em lagoa, e no vazio
que forma alguma ocupará, que resta
senão da natureza a dor sem gesto,
a calada censura
e a maldição que o tempo irá trazendo?

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